15 de mar. de 2013

sem ciência


Num braço prateado de um furioso redemoinho,
passando entre rochas geladas e luminosas,
uma anã surgiu esbanjando seu débil brilho.

Eram quatro as rochas; na terceira, um solvente abundava.
A composição desceu à rocha em marcha lenta,
com muita cautela para não assustá-la...

Lá embaixo, amaldiçoadas,
viviam estranhas criaturas de pele rosada.

Respiravam, andavam, comiam e,
só por vezes, perguntavam:
"Por quê?"

Ao que, perigosamente, replicavam:
"O que há de haver em universo tão regulado pra se entender?
Tudo somos; nossa vida e nossa mente são artifícios divinos
para que o próprio universo possa se conhecer."

Átomos pensando sobre átomos!

E tal resposta egoísta agradou muita gente,
que saiu contente em ser especial...
Por ser, claro, parte da semente
que representa o único modo de senciência normal.

Tolice.

Como pode haver um único oásis
na escuridão efêmera do espaço sideral?
Como se pode querer uma resposta
sem estar evolutivamente qualificado para tal?

Miserável deve ser a vida nesta rocha azul úmida,
onde não se sabe que o universo é o seu próprio ser,
que cria a vida onde menos se espera
e não precisa dela pra sobreviver.

E muito mais miserável é por ser tão sozinho,
e nem fazer questão de descobrir que não!
Pois por se encontrar tão preso ao seu próprio caminho,
acha que toda tentativa deve ser em vão.

Quando for possível, quem sabe, eles descubram que também há senciência além da escuridão.