4 de nov. de 2016

sensol

A música era alta
Os sorrisos eram largos
Os pés, as mãos, as bocas
estavam por todo lado.

Um filete de fumaça,
numa batida seca,
o mundo amorteceu.

E tão de repente,
tingiu de rosa a areia,
o dia amanheceu,
a névoa dissipou,
e soprou tons de laranja
no que antes era breu.

Fizeram-se os vultos alvos
em multicores rostos
e as zonas de tons rosados,
em nascer do sol...

Eu, no centro bendito, porém
das cores e sons, o bailado
Em desespero irremediado, além
das trevas no peito imolado.

Trôpega e pálida, eu
Arrebentei na areia
Refestelei na espuma
Me revirei no azul
de braços a me engolfar
No meio de coisa nenhuma

Tentei retomar o ar
me falharam, flácidos,
meus tesos tentáculos
em me sustentar .

Tentei erguer, no rebu
O corpo inerte e pesado
Retesado, do choro tácito
que a boca, de sal, cheia
não conseguiu urrar...

...

Fria e pálida, eu
De volta à rosada areia
Fui declarada morta
por volta das seis e meia.

E até hoje, quando finda a noite
Quando aplaca, do açoite,
Os olhos, das escuras matizes,
Rumo volta à areia.

Afogo,
no ciano longilíneo
O pesado fardo
dos pobres de espírito.

Como eu e você.

Que não vemos um palmo
à frente dos nosso narizes
e mesmo à festa sensória do nascer do dia
só comparecemos sob o manto fosco
e engordurado da melancolia.